Ah, como eles me machucam quando florescem! Os meus ossos se abrem aos poucos, e se quebram para darem espaço ao jardim que nasce. Das costelas, brotam copos de leite e cerejeiras que me alimentam até o inverno. Eu tenho boca-de-leão, e não morro de fome tão fácil! Na primavera passada, nascia apenas a flor-de-viúva, mas agora em cada canto meu há amor-perfeito. Não tenho medo das abelhas e das borboletas que se aproximam. Elas levam o pólen que a minha pele transpira. No espelho, já não sou apenas um esqueleto; sou dezenas de flores atravessando uma gaiola. No início, os espinhos pressionavam os meus pulmões e por muito tempo fiquei sem ar. Mas agora eles fazem parte do meu corpo, e me protegem das pessoas que desejam me machucar. Ninguém sabe o que há no lugar do meu coração. As aortas estão completamente obstruídas de terra, adubo e musgo. Falei isso ao meu cardiologista, mas ele não acreditou. Depois de fazer alguns exames, confirmou o diagnóstico e prescreveu medicação: muito sol e água. Ai! Quantas flores ainda se abrirão até a minha morte? E depois da morte, quantas sobreviverão sem o meu sangue?
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